Informação importante para pacientes portadores de prótese sobre implante
O advento do implante dentário trouxe uma nova expectativa para milhões de pessoas que sofrem com a perda dentária em todo o mundo. A literatura científica mostra que, quando bem indicada e corretamente executada, a restauração sobre implantes pode ser uma opção importante para a substituição de dentes perdidos, seja por doença ou por trauma. No entanto, milhares de implantes dentários são perdidos a cada ano, muitas vezes por falta de esclarecimentos por parte do dentista, e/ou falta de comprometimento por parte do próprio paciente quanto à adequada higienização e manutenção periódica da restauração.
Erroneamente, muitos pacientes pensam que implante é melhor, mais forte e mais durável que dente. Uma percepção que é também frequentemente compartilhada por muitos cirurgiões dentistas. Esta compreensão equivocada do potencial das restaurações sobre implantes tem levado a procedimentos onde dentes perfeitamente tratáveis são removidos e substituídos por implantes. A cárie, uma doença infecto contagiosa, é a principal patologia responsável pela perda dos dentes ao longo dos anos. Obviamente, por se tratar de elementos artificiais (metais e resinas), restaurações sobre implantes estão livres dos problemas causados pela cárie. Assim, muitos imaginam que a substituição do dente por um implante resolverá os problemas dentários para sempre, o que, infelizmente não é verdade.
Na realidade, existe uma possibilidade da troca de uma patologia dentária por uma patologia periimplantar.
Ao longo do tempo, sem a devida atenção, implantes dentários podem ser acometidos por doenças que se desenvolvem ao seu redor, tais omo a mucosite peri-implantar e a peri-implantite. A mucosite periimplantar se caracteriza por pequenos sangramentos provocados por inflamação gengival, a qual deve ser diagnosticada e tratada o mais cedo possível, para que não venha a evoluir para peri-implantite. Esta condição severa da doença se caracteriza por uma perda óssea progressiva ao redor do implante, comprometendo a ósseointegração implante-osso, podendo levar à perda do implante e da prótese.
Quando adequadamente tratada, a mucosite peri-implantar é reversível, ao passo que , a peri-implantite quando instalada, não há até o momento nenhum tratamento que possa reverter de forma previsível. Quando muito, a progressão da perda óssea poder reduzida e até estabilizada. Pacientes com histórico de perda dos dentes por doenças dentárias tais como a periodontite (piorréia), fumantes, diabetes, e outras condições, possuem um risco aumentado para o desenvolvimento da periimplantite. Assim, ao menor sinal de inflamação dos tecidos ao redor dos implantes dentários, pacientes devem buscar atenção imediata de seus dentistas.
Além das possíveis complicações biológicas, os componentes mecânicos das próteses sobre implantes também irão sofrer fadiga ao longo do tempo, o que pode comprometer o conjunto, e levar à perda óssea. Parafusos de fixação das próteses devem ser trocados de acordo com a necessidade. Os orifícios de cobertura dos parafusos são restaurados com resina composta, a qual com o tempo também irá manchar e/ou se soltar. O buraco de acesso ao parafuso existe para permitir que a prótese seja reversível, ou seja, para que possa ser removida quando for necessário fazer a sua manutenção. Portanto, caso alguma micromovimentação da prótese seja notada, o paciente deve procurar o dentista imediatamente para fazer a troca dos parafusos de fixação da prótese, sob o risco de fratura destes, e até mesmo dos implantes.
Outra causa não menos importante é o fator oclusal. Existem diferenças nos ajustes oclusais das próteses sobre implantes, quando comparadas com dentes naturais, e estes ajustes devem ser verificados periodicamente. Pacientes com bruxismo e/ou apertamento apresentam desgastes nos dentes e restaurações, o que irá sobrecarregar os implantes, levando à fadiga precoce de componentes e uma possível perda da ósseointegração. Trabalhos científicos têm relatado a perda de implantes após alguns anos em função sem justificativa aparente que poderia estar relacionado a problemas oclusais.
Atualmente a maioria das restaurações de amálgama e ouro tem sido substituídas por resinas compostas que se desgastam ao longo do tempo e começam a sobrecarregar os implantes dentários ,pois as cerâmicas não se desgastam e os contatos sobre implantes que haviam sidos ajustados de maneira correta começam a ter contatos excessivos que podem necessitar de ajustes periódicos.
Em situações mais extremas, pacientes com bruxismo e/ou apertamento, este processo tende acontecer mais rapidamente. Assim, após avaliação cuidadosa o profissional deve indicar uso de uma placa miorrelaxante personalizada de acrílico para a evitar que as restaurações se desgastem e venham a sobrecarregar a prótese sobre implante.
Como vemos, a troca de dentes por implantes não livra os pacientes de terem que visitar os seus dentistas regularmente. A colocação de implantes dentários requer novos cuidados, imprescindíveis para a longevidade do complexo implante/prótese. A manutenção deve ser conduzida de forma personalizada, com base em uma avaliação de risco de acordo com o tipo de prótese, o grau de dificuldade de higienização das próteses, o histórico da perda dos dentes, da condição sistêmica do paciente, e uma série de outros fatores que podem definir a progressão da doença. Com base nesta avaliação de risco, a manutenção periódica pode variar desde visitas mensais, trimestrais, semestrais até anuais ao seu dentista, nunca devendo passar de um ano.
A cada visita, o dentista irá reavaliar todo o conjunto implante/prótese, certificando a integridade mecânica do conjunto e o estado de saúde dos tecidos ao redor do implante. Radiografias de acompanhamento serão realizadas para o avaliação do nível ósseo. Instruções de higiene devem ser reforçadas, e uma profilaxia preventiva conduzida. Além de assegurar uma maior longevidade aos implantes, a adequada higiene das próteses, principalmente em idosos, reduz patógenos respiratórios oportunistas, que colonizam superfícies duras, e que podem ser aspirados e causar doenças sistêmicas sérias tais como: endocardite bacteriana, pneumonia por aspiração, infecção gastrointestinal, e doença pulmonar crônica obstrutiva.
Portanto, a colocação de implantes em substituição aos dentes naturais, embora seja uma alternativa possível e muitas vezes necessária,
não significa que os pacientes estarão livres da necessidade do acompanhamento periódico de seus dentistas. Basicamente, o que muda é somente o tipo de atenção requerida. Pacientes devem ser informados de forma tão completa quanto possível sobre as consequências e obrigações atreladas ao tratamento. Somente assim, através da conscientização plena dos pacientes, assim como de sua participação efetiva, o tratamento poderá ser considerado como bem sucedido a longo prazo, e não somente como um paliativo temporário.
Autor: Dr. Murilo Pereira de Melo
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